sábado, 29 de outubro de 2011

É melhor rirem comigo do que de mim

Por Priscila Rozas

Desde que, de tão grande, eu era chamada de formiguinha pelos meus próprios familiares, sempre fui ensinada a não me importar com o que os outros dizem de mim.
Fui crescendo e, com 11 anos de idade, estava naquela fase horrível de pré-adolescente: braços e pernas maiores que o tronco sabe? Formiguinha já não me cabia mais, porém na 5ªsérie, os alunos endiabrados me colocaram alguns apelidinhos carinhosos, como, poste, escada de bombeiro, girafa, bambu, arranha-céu, entre outros, e quanto maior a criatividade, maior a gargalhada que soltávamos na 5ªE da Joaquim Moreira Bernardes.
Hoje, no 3ºano do Ensino Médio, o único apelido que ficou foi um dado pela minha irmã que, eu não mencionei, mas também é terrível. Giriema: uma mistura de girafa com seriema. Confesso que é engraçado, mas na minha família não adianta, quando é para tirar sarro da sua cara, infernizam até o fim, nunca se cansam.
Não tenho problemas psicológicos, não pretendo explodir um shopping, não quero atirar em ninguém na escola e, muito menos me matar. Sou normal, completamente feliz graças à educação, ao ensino que me foi passado desde criança pela minha família. Só imagino o quanto de risada eu teria economizado se o sensacionalismo fosse o mesmo no meu tempo.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sonhos roubados

Por Priscila Rozas

Sim, eu tenho sonhos roubados. Mas por quem? Quem teria a coragem de roubar sonhos? Ora essa! Uma coisa tão boa, tão íntima. Ah... mas uma pessoa pobre não pode ter o sonho de ser médica. Claro que não, é utopia. E aquela menina lá? Mas ela era superdotada! E aquele outro lá? Perdeu metade da vida no quarto estudando. Ué? Mas estudando? Ele não fez até o Ensino Médio? Sim, mas em escola pública, que é o mesmo que nada quando se tem um sonho desses, daí se abre mão de passeios, encontros com os amigos, happy hours, etc, etc, etc.

A vida de um estudante pobre que tem o sonho de estudar numa Universidade Pública é assim, cheia de renúncias. Ah... Mas quem tem um sonho deve renunciar. Sim, isso é claro, mas renunciar a vida? Na escola não se vê o que realmente tem que se ver. É trabalhinho aqui, uma nota por copiar a matéria ali. Isso tudo em pleno século XXI! Criando uma sociedade sem amor à cultura, sem amor aos estudos e principalmente, uma sociedade BURRA.

Hoje no curso ouvi um menino falando que Teatro era chato e que nada de arte lhe agradava. Tenho a impressão de que ele não conhece a verdadeira arte. Nem é tão difícil assim. Desenhos animados são arte, filmes são arte, a vida é uma arte. Se alguém vai apresenta-lo a Monet, é claro que ele pode não gostar, afinal ele esta na 6ª série, não é de família rica... Mas eu também não sou, e se tem uma coisa que eu valorizo é a arte, a cultura. Não sou conhecedora, mas sei dar o devido valor e apreciar.

E aí fala: nossa! que menino sem cultura, sem educação! Ué, mas os professores não estão sabendo passar o devido ensino aos alunos. É dia que não tem aula aqui, um dia com um professor que falta, mais um dia com filme e pipoca, e pra falar que não estão sem aula, “Façam um resumo do filme”. O pior é quando tem que fazer “5 questões com resposta sobre o texto da página tal”.

Eles roubam nossos sonhos. Roubam o sonho que um estudante de escola pública tem de estudar numa Universidade Pública. Roubam o sonho de ter o mesmo nível educacional de uma escola particular. Roubam tudo colocando a culpa no governo que não disponibiliza de ferramentas para ajudar. Colocam a culpa em alguém.

São bonzinhos com os alunos da noite: nada de passar prova, eles trabalham, não têm tempo de estudar. Já com os da manhã: vamos, estudem (estudar o quê?), façam os trabalhos (ou seja, copiem da internet), senão ninguém vai passar de ano (é isso o que importa: passar de ano, não aprender), senão não vai ter nota. Façam 200 trabalhos copiados da internet e vocês terão minha credibilidade e serão DESTAQUES.

Mas na realidade, a vida vai cobrar, todo o conteúdo que não foi passado, todas as provas que não foram dadas. Além disso, a pessoa ainda fica com trauma por ser aluno nota 10 na escola e nota 0,5 no Vestibular.